sexta-feira, 1 de outubro de 2010

pequeno desabafo de um torcedor

Que o futebol brasileiro é desorganizado, todo mundo sabe. Que o calendário imposto pela CBF está longe de contemplar os interesses do torcedor, até os boiadeiros das fazendas do Ricardo Teixeira sabem. Na verdade, este assunto faz parte do cardápio há várias gerações, e estamos acostumados a digeri-lo sem senhum tempero; desce quadrado como cerveja quente com churrasquinho de gato.

A consequência é diluída por todas as camadas do ludopédio no país de Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca. Todos encaramos o sofrimento em algum nível. Desde o horário tardio nos jogos das 4as feiras, que obriga o trabalhador a dormir depois da 1h da madruga, até o eventual desfalque de jogadores importantes que um clube sofre ao cedê-los à seleção brasileira em meio ao campeonato nacional, o Brasileirão.

Com seus jogos atropelados ou adiados por motivos banais, o certame compete em grau de importância com as atrasadas finais de alguns estaduais, perde em importância para a fase decisiva da Libertadores e da Copa do Brasil, e corre em paralelo (às vezes em desvantagem) à Sulamericana, a série B continental. Não é raro ver técnicos escalando reservas em clássicos nacionais, em função de um calendário apertado que redunda em fadiga muscular para os atletas, outrora denominados jogadores.

Tudo isso acompanha de forma quase romântica a relação dos cartolas com seus técnicos. A culpa é sempre da “cultura”, um ente aleatório que nunca poderá ser discutido ou, credo (!), modificado. Nossa cultura é demitir um técnico após 5 derrotas, não podemos ir contra. O plantel é fraco, os salários atrasam, os ingressos caros afastam a torcida, mas a culpa é do treinador pelo insucesso do time. É claro que os ‘Silas da vida’ me desmentem com sua incompetência recorrente, mas a regra não pode ser um técnico demitido por rodada. É quase inverossímil.

O amadorismo da cartolagem explica tudo? Talvez. Bons dirigentes deveriam passar seu mandato negociando com a CBF melhores condições para os clubes. Uma boa gestão deveria se preocupar em não deixar uma herança de dívidas impagáveis, como as que nossos pobres clubes ostentam. O profissionalismo do futebol brasileiro, este sonho que há décadas povoa o imaginário coletivo, parece algo inalcançável, principalmente depois que esse pessoal descobriu que bons cargos em clubes podem os levar à política e a tantos outros benefícios sociais, como boas mesas em restaurantes, ingressos para shows, convites para camarotes vip, etcetera.

Enquanto torcedor, posso afirmar que me incomoda admitir que todos os outros campeonatos nacionais do mundo são mais organizados que o meu. Por vezes, esta gerência profissionalizada e bem arranjada que os outros países têm se confunde com a qualidade técnica das equipes, e a sensação é de que um campeonato espanhol é melhor que o brasileiro, tecnicamente falando. Sei que não é, mas não deveríamos nem cogitar tal comparação.

Outra espinha de peixe são os estaduais. Nenhum jogo de campeonato estuadual me interessa há muito tempo, nem os clássicos. Mas é da nossa cultura, e excluí-los do calendário seria comprar uma briga descomunal que ninguém quer para si. Trocando em miúdos: só resta lamentar, pois nada mais é factível.



"Nunca vá contra a famiglia. Capiche?"




Imagem: wikimedia.org

Um comentário:

O autor disse...

Muito bom seu blog, também, já está linkado.

Dê, quando puder, uma passada também no meu outro blog, sobre análises táticas, o Boleiragem Tática(http://boleiragemtatica.wordpress.com)

Abraços

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