107 anos de Grêmio

Nasci no dia em que o Grêmio Football Porto-Alegrense completava 72 anos. Meu pai faleceu cedo, quando eu acabara de fazer 5, mas dele herdei o gremismo. Não tive aquela experiência paternal de ser levado ao estádio para me apegar ao clube. Este empurrão veio graças a meu tio, tardiamente, mas em boa hora. Com 11 anos de idade, conheci o Estádio Olímpico Monumental, justamente num Gre-Nal, o clássico mais apaixonante que o esporte concebeu em todas as modalidades. Domingo de sol, arquibancadas lotadas, equipes fortes prestes a decidir o título estadual e uma conquista emocionante: 3x2 no placar, e o Grêmio sagrava-se tricampeão gaúcho. Ingredientes de um espetáculo memorável que ficou, e ficará, seguramente, guardado na memória.

Antes disso, porém, tenho minhas lembranças futebolísticas de televisão, criança movida pela curiosidade e pelo entusiasmo coletivo. A principal vem do ano de 1983 - Mundial Interclubes. Meu time, prestes a entrar em campo para se sagrar campeão mundial, numa madrugada de dezembro, e eu mal conseguia manter os olhos abertos. Minha mãe, uma colorada, deu AQUELA força, me mantendo acordado enquanto o grande jogo acontecia. Depois disso, quando os foguetes já tomavam conta de Porto Alegre - o Grêmio vencera por 2x1 -, ela ainda me levou de carro para presenciar os festejos, nas ruas tomadas pela loucura e pela emoção. Naquela noite, a capital gaúcha não dormiu, graças ao feito protagonizado por Hugo De León, Espinosa e, principalmemte, Renato Portaluppi, hoje técnico da equipe gremista.

Os anos 80 foram de jornadas inesquecíveis. Alguns títulos, muita rivalidade... Mas seriam na década seguinte os picos de emoções fortes. Confesso que o rebaixamento de 91 foi uma facada no rim, mas a euforia da Era Felipão, que chegaria a partir de 94, é o que ficará marcado para sempre. Passávamos por cima de todos, impiedosamente. Nosso time jogava com muita garra, além de uma boa dose de técnica. 

Em campos japoneses pela segunda vez, fomos parados pelo então poderoso Ajax, que era a base da seleção holandesa. Aquele 0 a 0 foi sofrido, onde jogamos com 10 em campo a maior parte do tempo. O supertime holandês só foi capaz de nos derrotar na cobrança de pênaltis. 1995 terminava com este golpe cruel, para alegria da torcida colorada, que festejou como se o Inter tivesse conquistado um título.

Se é meio óbvio falar de finais, vou então mencionar a lembrança de um jogo do brasileirão de 1996, Vasco x Grêmio, em São Januário. O time carioca contava com Edmundo, mas o domínio campal era tricolor. O paredão no meio era sinônimo de bola roubada e a natural manutenção da supremacia técnica. Mas o Animal Edmundo tinha um ferramental raro, e surpreendeu o goleiro Danrlei com um chute da intermediária, encobrindo o arqueiro gremista e decretando a injustiça no placar. Dali em diante, deu-se início um massacre que poucas vezes vi parecido entre times da mesma divisão. O Grêmio ignorou o desfavorecimento por jogar como visitante e encurralou o Vasco em sua área. O problema era o ataque, que estava desfalcado, e a bola teimava em não entrar. No final, uma jogada de escanteio terminou no gol de empate. A vitória não veio, e nem fez falta. A superioridade foi monstruosa num campeonato cujo título viria mais adiante. 

Com tantas conquistas (2 Libertadores, 1 Mundial, 2 Brasileirões, 4 Copas do Brasil), há um momento na história que reforça o orgulho gremista mais do que qualquer outra coisa: a Batalha dos Aflitos. Todo tricolor se emociona ao lembrar daquele Náutico 0x1 Grêmio, pela série B do ano de 2005. Aquilo vale mais que um mundial, uma façanha inigualável e inestimável, com uma amplitude que torcedores de outros times não conseguem mensurar. A arrancada de Ânderson (pra nós, o Andershow) rumo ao gol adversário, é uma imagem que jamais sairá da retina. Heroísmo puro.

Hoje, no nosso aniversário, deixo meus parabéns ao Imortal Tricolor Gaúcho. Muitos anos de vida para nós!

Fotos: gremio.net e gremio1903.wordpress.com