sábado, 31 de julho de 2010

GRENAL: o Zelador encara o Pastor



Os momentos que Grêmio e Internacional atravessam são opostos. Nas ruas de Porto Alegre, enxergar pessoas vestindo a camisa tricolor está cada vez mais raro. O torcedor protesta pela internet e nas mesas redondas que se formam nos botecos da cidade. Regados a muita cerveja escura acompanhada de polenta frita, gremistas esbravejam contra a direção do clube, enquanto os termômetros assinalam temperaturas de apenas um dígito. Enroladas em cachecóis de lã, as gargantas arranhadas de quem trafega pela zona do rebaixamento produzem o descontentamento dos que veem o rival colorado triunfar nos gramados, buscar grandes jogadores a peso de ouro e enfeitar sua casa para hospedar a copa do mundo. O gremista está furioso e quer ser ouvido. A reclamação é contra o presidente, contra o vice, contra o técnico, contra certos jogadores.

Há quem receba salários de R$ 200 mil mensais no Grêmio e não tenha marcado um mísero gol em 2010. Mas e quem o contratou? E quem escala o veterano desmotivado e rico em detrimento das promessas da base? Ninguém escapa. O tiroteio alcança todos os níveis do tricolor do bairro Azenha.

À frente da comissão técnica, o técnico Silas, apelidado nas redes de ‘Pastor’ devido a sua eloquente religiosidade, comanda o grupo de jogadores que ostenta a folha de pagamento mais alta da história do Grêmio. 
Passa dos R$ 3 milhões 
por mês o que o clube paga a seus atletas. O elenco é bom, inegavelmente, mas Silas não tem conseguido extrair o máximo de seus comandados. O esquema tático é simples: 4-2-2-2, onde os laterais têm liberdade para apoiar. A dupla de volantes é composta de um jogador encarregado da destruição e o outro da ligação com os meias. A cobertura aos laterais é feita pelos zagueiros, e quando se faz necessário, o primeiro volante recua ainda mais para preencher espaço. Não há marcação forte na saída de bola do adversário. Os meias não escostam nem cercam os volantes da outra equipe.

Para o clássico Grenal, Silas mudará taticamente. Como a única mudança desse gênero conhecida no futebol brasileiro é alterar o esquema para o 3-5-2, é isto que o Pastor fará.

Às margens gélidas do Rio Guaíba, o Internacional só tem olhos para a Libertadores. A um jogo da final, o Grenal será disputado com um time recheado de reservas. Após um primeiro semestre de contestações, que culminou com a demissão do técnico Jorge Fossatti, a direção colorada foi às compras, e se preocupou em buscar jogadores identificados com as cores do clube, experientes e vencedores. Chegaram: Tinga, Rafael Sóbis e Renan. Este último é uma clara tentativa de compensar a contratação do velho goleiro Abondanzieri, com suas saídas estabanadas e dificuldade clara nos tiros de longa distância. Para organizar a casa, Celso Roth foi trazido do Vasco. Tal qual um bom zelador, Roth arrumou o que estava bagunçado, limpou a sujeirinhas que incomodavam os condôminos e regulou as engrenagens que estavam enferrujando. Com uma série de vitórias convincentes no brasileirão, o Inter assumiu o favoritismo para abocanhar a Libertadores.

Roth adota um 4-2-3-1 forjado nas características de seus principais jogadores: Sandro, Guinazu e D’Alessandro. A linha de 3 é composta por D’Ale, Taison e Tinga, que abastecem o centroavante Alecssandro - que se não é nenhum Nilmar, trata-se do artilheiro atual do campeonato brasileiro, com 6 gols. Vem funcionando bem. Os laterais não vivem grande fase, mas são
competentes e não deixam brechas. Mas o fundamental para a boa campanha do Inter é contar com um banco de reservas que qualquer equipe brasileira gostaria de ter. É comum ver Giuliano ou Andrezinho entrarem no segundo-tempo para protagonizar vitórias em jogos difíceis. E ainda restam Sóbis, Mathias, Fabiano Eller... 

Mas tudo pode mudar. O clássico gaúcho tem o poder de inverter favoritismos e mobilizar as massas. Se o Pastor triunfar, conquistará, além dos 3 pontos na tábua, um tempo de tranquilidade para mostrar seu valor e retomar a confiança perdida junto ao torcedor gremista. Se o zelador Roth vencer mais uma, a auto-estima colorada alcançará um notável patamar. O Inter se incluirá entre os favoritos ao brasileirão e o time da Libertadores chegará ainda mais forte para o jogo de 5a-feira.

O QUÊ: Internacional x Grêmio - 12a rodada - Brasileirão 2010.
QUANDO: Domingo, 01/08/10, às 16h.
ONDE: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre.

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