terça-feira, 13 de julho de 2010

Projetando o Futuro

Meu colega de blog defendeu no post abaixo a mesma idéia sobre a qual eu tinha planejado escrever. Também não vejo uma nova tendência no futebol mundial a partir do título espanhol. Mas como nossos argumentos para defender essa tese são diferentes, manti a idéia original.
Um exemplo é a Holanda de 1974, que encantou o mundo e pareceu trazer uma revolução para o futebol. revolução que nunca se materializou. As duas grandes novidades da Laranja Mecânica (a marcação pressão em todo o campo e a ausência de posição fixa para alguns jogadores) praticamente não foram mais usadas. Esporadicamente se usam versões mais tímidas de uma dessas características. E o futebol mundial continuou o mesmo.
O grande argumento para essa idéia de que o futebol mundial é condicionado pelo vencedor de uma copa é a derrota do Brasil em 1982, a qual muitos acreditam ter reforçado o pragmatismo futebolístico nos anos seguintes. Mas a questão é que esse pragmatismo já vinha em ascensão. O própio Brasil de 1978 já não tinha quase nenhuma ligação com o futebol brasileiro do passado. Pode até ter sido um elemento a mais, mas quando se olha a evolução do futebol mundial, fica claro que esse pragmatismo tinha raízes muito antigas e estava em franca ascensão antes da copa de 1982.
Além disso, não me parece que o time espanhol seja tão ofensivo quando muitos acham. Joga num 4-2-3-1, o esquema da moda. Um de seus laterais é apenas marcador (Capdevilla), tem dois volantes que pouco avançam (Busquets e Alonso), e sua linha de meias tem como articulador central um volante (Xavi), talentosíssimo, mas um volante. E apenas um atacante, Villa, que nem ao menos é jogador essencialmente de área. Taticamente a Espanha campeã do mundo é bem convencional.
O que ela tem é a valorização da posse de bola, uma característica bem pragmática, típica do Brasil de 1994, já que é fundada na idéia de que com a bola nos pés voce nao pode ser atacado. Como os armadores espanhóis são talentosíssimos, isso resulta em uma troca de passes muito mais eficiente do que tínhamos no burocrático time de Parreira. Mas isso tem mais a ver com a qualidade dos jogadores do que com o sistema de jogo.
O que há de mais ofensivo no time de Del Bosque é a utilização da marcação pressão, que impediu o fulminante contra-ataque alemão nas semifinais, e sufocou completamente a Holanda nos primeiros minutos da final. Tomam a bola ainda no campo de ataque, e portanto não apenas tem uma enorme posse de bola como ela está sempre perto do gol adversário (falta penetração, o grande problema do time).
Mas se não é super ofensiva, nem tecnicamente assombrosa, não se pode negar que os espanhóis arejam um pouco o mundo tão globalizado do futebol. Atualmente todos querem jogadores altos e fortes, que fiquem plantados na defesa para tentar descolar um gol no contra ataque (Brasil jogou assim, por exemplo). Ter uma campeã que valoriza a posse de bola, a troca de passes entre jogadores habilidosos, e usa a marcação por pressão, é algo que certamente não mudará o futebol. Mas talvez convença espíritos menos renitentes que força física, correria e contra-ataque não são a única maneira de ganhar uma partida. E que talento importa mais do que ser guerreiro.

Um comentário:

Leonardo Steno disse...

Interessante a menção à copa de 82.

Sobre o time da Espanha, seu jeito de jogar vai contra o que eu mais aprecio no futebol. Eles não criam chances de gol. Não que eu desmereça a posse de bola dos espanhóis - inclusive acho muito difícil implementar esse estilo e fazê-lo triunfar.
Só acho que eles cometem pecados demais quando se faz necessário um arremate.
Talvez com Torres em forma este detalhe fosse aprimorado... mas enfim, eles são os campeões...

Related Posts with Thumbnails