sexta-feira, 23 de julho de 2010

Muricy

Estou em Buenos Aires há alguns dias, longe, portanto, de poder acompanhar em detalhe as discussões sobre o cotidiano do nosso futebol. Vejo os resultados, leio alguns comentários, nada mais. Só que a escolha de Muricy Ramalho para técnico da seleção é tema que não se pode ignorar. E vou dizer de cara que aprovo inteiramente a escolha. E explico por que.
Quem olha para o que se passou no último mundial não pode deixar de se assustar com a maneira pela qual treinadores de seleções são escolhidos. Uns poucos foram treinadores com anos de trabalho sólido em clubes (o que inclui, não por acaso, os dois finalistas do mundial), enquanto na maioria dos candidatos ao título, os treinadores são escolhidos por razões políticas. Dunga foi nosso técnico porque Ricardo Teixeira achou que precisava sinalizar que a bagunça de 2006 não se repetiria. Maradona foi o treinador argentino porque Julio Grondona achou que era a melhor maneira de assegurar que ninguém o criticaria por uma escolha errada. O pavoroso Domenech foi o técnico francês por sua boa capacidade de articulação política. Como pode se ver, nada a ver com qualidade profissional. E se olhamos para os treinadores da seleção brasileira em copas do mundo, quantos chegaram lá por terem realizado anos e anos de bons trabalhos em clubes? Só me ocorrem dois: Luis Felipe Scolari e Telê Santana. Os demais treinadores de seleção brasileira em copas do mundo tinham, se tanto, um par de títulos estaduais ou algum bom desempenho com alguma seleção do mundo árabe. Convenhamos, para uma seleção brasileira isso é muito pouco.
E o pior é ver alguns dos argumentos contrários a Muricy. Ele por vezes é grosso com a imprensa? Problema da imprensa, ser bonzinho com jornalistas não deve ser critério para escolher treinador da seleção. Não é político? Que ótimo, chegou lá por seus méritos. Agora vejam que inversão de perspectiva: critica-se um técnico vencedor por não ser político, quando deveria ser exatamente o oposto. Deveriamos criticar os que vencem na profissão por seu desempenho político sem mostrar resultados de alto nível, e não o contrário.
Os times de Muricy não jogam o futebol dos meus sonhos. Mas é um técnico de capacidade reconhecida e comprovada, com muitos títulos em grandes clubes brasileiros. Se esse foi o critério de escolha, só posso aplaudir. Que isso sinalize um novo tempo, em que técnicos serão avaliados por seu trabalho, e não por suas relações políticas e relacionamento com a imprensa. Isso não tem nenhuma importancia.
Evidentemente que se vai dar certo ou não, aí é outra história. Mas que o critério de escolha foi acertado, isso não tenho dúvidas.

2 comentários:

Leonardo Steno disse...

Esta é a análise. Assino embaixo.

Leonardo Steno disse...

mas pelo jeito teremos outro técnico na seleção...

Related Posts with Thumbnails