terça-feira, 15 de junho de 2010

A Estréia

Tenho sérias dúvidas sobre o que pensar sobre a estréia da seleção brasileira na copa do mundo. Algumas coisas parecem claras. Não temos lateral-esquerdo, nosso meio de campo é medíocre, e nosso trio ofensivo não correspondeu. Afinal, não é demais lembrar que jogamos contra um time que dificilmente venceria um campeonato estadual medianamente concorrido aqui no Brasil.
A questão é: o que Dunga tirou disso? Se na opinião dele isso pode significar que mudanças e ajustes são necessários, o jogo foi ótimo. Se ele achou que o time dele pode ganhar de qualquer um a partir de hoje, devemos ficar muito preocupados.
Importante lembrar. O Brasil venceu o time mais fraco da chave por apenas um gol. Os rivais de verdade empataram na outra partida. Se na proxima rodada o Brasil não vencer (digamos que empate) e Portugal fizer dois gols de diferença no nosso adversario de hoje, entraremos extremamente pressionados na última rodada. E se isso acontecer com o time jogando o que jogou hoje... o fantasma de 1966 pode começar a aparecer.

Memória
Hoje se comemora o aniversário daquelas que provavelmente foram as duas maiores e mais espetaculares descobertas da história do futebol mundial: o futebol brasileiro e o futebol total.
No ano de 1958 o Brasil era um país intermediário no mundo da bola. Nas copas mostrava ótimos jogadores, mas nao conseguia ganhar nada. Na copa daquele ano começou com uma vitoria (Austria) e um empate (Inglaterra) que não despertaram maior atenção. Há 52 anos o Brasil entrava em campo para enfrentar os soviéticos na decisão da vaga para a segunda fase. Como se presumia que os ingleses venceriam os austríacos (o que no fim não aconteceu), era já um mata-mata: quem perdesse estava fora.
Era guerra fria. Os soviéticos haviam colocado o primeiro satélite no espaço, e dizia-se que seu futebol era a base de computador, infalível. Só que o resto do mundo não conhecia Pelé e Garrincha, que estreariam naquela partida. Assim que foi dada a saída Didi lançou Garrincha que passou voando por Kusnetzov e mandou uma bomba sem ângulo nenhum. O lendário Iashin nem conseguiu ver a bola explodindo na trave. E a coisa continuou assim por 3 minutos, pressão absoluta do Brasil com Pelé e Garrincha absolutamente diabólicos, até que Vavá meteu nas redes um primoroso lançamento de Didi. O Brasil dominou completamente a partida e desmoralizou os russos, ainda que só fazendo mais um gol, novamente de Vavá.
Fico me colocando no lugar de um espectador daquela partida, ou talvez de um jogador russo. Um país sul americano, não tido como favorito, aparece do nada com aqueles dois desconhecidos absolutamente imarcáveis, aterrorizando o mundo. Deve ter sido uma experiência e tanto. Dali ao nosso primeiro título era questão de tempo. Há 52 anos o mundo descobria e se apaixonava para sempre pelo futebol brasileiro.

E há 36 anos Holanda e Uruguai entravam em campo para estrear na copa do mundo de 1974. A Holanda não tinha qualquer tradição como seleção, não ia a um mundial desde os anos 1930. Era dona dos ultimos quatro titulos europeus de clubes (Feyenoord 1970, Ajax 1971/72/73) e tinha jogadores conhecidos entre os europeus. Por essa razão era olhada com algum respeito, mas sem aparecer em nenhuma lista de favoritos.
Do outro lado a Celeste, bi mundial, semifinalista em 1970, com o gênio Pedro Rocha a frente, contando com vários outros ótimos jogadores (Mazurkiewicz, Cubilla, Morena, Esparrago), era um time muito respeitável. Qualquer um colocaria os orientais como favorito para aquele jogo.
Só que a celeste simplesmente não viu a bola. A Holanda entrou em campo em um 4-3-3 convencional, mas marcando muito a frente, uma marcação pressão de 90 minutos em que vários jogadores pressionavam o adversário com a bola até retomar e partir rapidamente na velocidade no contra-ataque. Ninguém nunca tinha visto nada parecido, e nem viu depois (ver o video abaixo). Com Cruyff à frente, seguido por jogadores do nivel de Neeskens, Krol e Resembrink, a Holanda marcou época. Não marcou o início de uma nova era no futebol, em parte por não ter conquistado o título, em parte porque o futebol foi se tornando tão medroso que ninguem nunca mais teve coragem de tentar aquilo. Então quem viu aquilo viveu de fato um momento histórico.

Um comentário:

Leonardo Steno disse...

Concordo. Estou com a copa de 90 na cabeça...

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