sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Segredo Gaúcho

Porto Alegre tem população equivalente à de Recife, Curitiba ou Belém, e metade dos habitantes de Salvador ou Belo Horizonte. O Rio Grande do Sul tem menos população que Minas Gerais ou Bahia. Seu PIB é apenas o quarto do país. No entanto, nas últimas décadas o futebol gaúcho tem uma lista de títulos absolutamente desproporcional ao que esse quadro de potencialidades pode sugerir. Nos últimos 35 anos foram 2 Mundiais, 4 Libertadores, 5 brasileiros, 6 copas do Brasil. Muito mais que Minas Gerais em todos esses quesitos, um estado bem mais rico e populoso. Outra façanha gaúcha é ser o único estado cuja torcida não foi minimamente afetada pela popularidade dos clubes do Rio e São Paulo. Somos todos gremistas e colorados.
Sempre me perguntei o porque dessas peculiaridades. O orgulho local não parece relevante, já que povos também muito orgulhosos (mineiros, baianos, pernambucanos, etc.) não são tão fiéis aos clubes do estado. Boas administrações são uma boa explicação, mas o que explicaria a dupla Gre-Nal ter sido agraciada com uma média superior de bons gestores?
Seja qual for a explicação, ela passa pela acirradíssima rivalidade gre-nal. Em 1975 o Rio Grande do Su tinha um desempenho futebolístico inferior a Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, que já tinham títulos nacionais. Só que na segunda metade da década o Internacional conseguiu dar o salto nacional, e venceu três brasileiros em um curto espaço de tempo (75/76/79). Foi um tempo dificil para os gremistas, que acabaram tendo de se virar. Venceram o brasileiro de 81 e a libertadores e mundial de 83.
Os anos 80 e 90 foram tempos difíceis para os colorados. Não tiveram um desempenho ruim, com 8 estaduais (81 a 84, 91/92/94/97) e uma copa do Brasil (92). Mas o Grêmio teve um momento bem melhor, tanto dentro de casa, como principalmente fora (Mundial 83, Libertadores 83/95, Brasileiro 81/96, Copa do Brasil 89/94/97). E foi a vez do Internacional ser obrigado a correr atrás do rival.
Nos primeiros 10 anos do século o jogo virou. O Internacional conquistou 2 libertadores, 1 mundial e 6 regionais. O Grêmio nem teve um desempenho ruim (regionais 01/06/07/10; copa do brasil 01; vice da libertadores 07), mas o rival está bem a frente fora de casa. Como gremista não me preocupo. Sofro imensamente com o melhor momento do inimigo, mas fico descansado ao saber que isso vai mudar, mais cedo ou mais tarde.
Pois em outros estados importantes os clubes se resignam a chorar pelas vantagens e facilidades que os clubes paulistas e cariocas recebem da CBF, dos árbitros e da mídia. Os clubes grandes desses estados se contentam em vencer regionais e beliscar um ou outro sucesso fora de seu estado. No Rio Grande isso é impossível. Ganhar vários regionais e uma copa do brasil em uma década já é uma catástrofe, já que o rival ganhou mais que isso.
Os dirigentes acabam sendo muitíssimo pressionados pela mídia e torcida locais, são obrigados a contornar as desvantagens. Os clubes gaúchos acabam revelando muitos bons jogadores, conseguem pescar bons jogadores a baixo preço e tem os mais bem sucedidos programas de sócio-torcedor do país. Com isso tudo, as dificuldades vão sendo relativizadas, e os clubes gaúchos impulsionam suas histórias para a frente. Se não o rival acaba disparando, e a crise destrói os que lá estão.

Um comentário:

Carla Reichert disse...

Eu nao entendo muito de futebol. Mas sou gaucha e gremista. Vou falar como torcedora. E olha que nao moro lá. Mas mesmo morando no Rio de Janeiro nao consigo deixar de torcer como se lá morasse. rs
Acho que a paixão do gaucho pelos times, que são poucos e os dois grandes rivais que fazem do grenal sempre eum evento, impulsiona os times. Vim puxar a brasa p a terrinha.Sem ser machista, nem feminista, pq já tem muita mulher por ai que entende de futebol. abraços.

http://precisomeexpressar.blogspot.com/

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