quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Brasil na Libertadores

Os mais jovens podem não acreditar, mas a verdade é que num passado não muito distante os clubes brasileiros eram um total fracasso na Libertadores. Éramos completos figurantes no mais importante torneio do continente, totalmente hegemonizado por clubes argentinos e uruguaios. Um dado é suficiente para demonstrar isso. Nas primeiras 30 edições do torneio (1960-1989), os brasileiros venceram apenas cinco (Santos 1962/63, Cruzeiro 1976, Flamengo 1981 e Grêmio 1983), sendo nosso país inteiro superado por apenas um clube, o Independiente, que ostentava 7 títulos (1964/65/72/73/74/75/84). No total, os argentinos tinham metade dos títulos (além do Independiente, eram 3 títulos do Estudiantes, 2 do Boca Juniors e 1 para River Plate, Racing e Argentinos Juniors) e os uruguaios mais 8 (5 do Peñarol e 3 do Nacional). Completavam o quadro Paraguai e Colômbia, com 1 título cada.
As causas do nosso insucesso eram variadas. Gostávamos de dizer que a causa essencial era a violência extrema de argentinos e uruguaios, o que não era exatamente verdade. Os clubes de menor qualidade técnica desses países se aproveitavam de expedientes escusos, mas havia também grandes times por lá. Me lembro muito de um Peñarol que em 1982 humilhou Flamengo, Grêmio e São Paulo para conquistar o título jogando um grande futebol. De tanto perder, os clubes brasileiros acabavam nem dando tanta importância ao torneio.
A grande virada foi nos anos 1990. Nas 20 edições seguintes o Brasil venceu 8 de 20 torneios, e só não esteve nas decisões de 1990, 1991, 1996, 2001 e 2004. O desequilíbrio só não foi maior pelo grande time do Boca Juniors da primeira década do século atual, com 4 títulos num curto espaço de tempo (2000, 2001, 2003, 2007).
Há várias razões para explicar essa mudança súbita, mas acredito que a mais importante esteja associada ao exponencial aumento da exportação de jogadores para o mercado europeu. Maior, mais populoso, e com maior número de pessoas praticando o esporte, o Brasil parece sofrer menos com a devastação causada pelo êxodo. O caso oposto seria o Uruguai, que com seus parcos 3 milhões e meio de habitantes não tem chance de repor as perdas dos jogadores que vão para outros países. O último título charrua na Libertadores foi o do Nacional em 1988. De lá para cá o máximo que conseguiram foi chegar em duas semifinais (Danubio 1989, Nacional 2009).
Sobram Brasil e Argentina na disputa. Mas mesmo a Argentina não parece estar conseguindo acompanhar o ritmo. Mas se excluirmos o grande time, já desmantelado, do Boca, sobra apenas o título da última edição conquistado pelo Estudiantes. Dois grandes times, por certo, mas em termos quantitativos é muito pouco (o Brasil colocou 10 clubes diferentes em decisões nas últimas Libertadores, contra apenas os dois argentinos citados).
Neste ano, com a imensa crise dos grandes clubes argentinos, o país vizinho não conseguiu uma boa performance no torneio. Para o próximo ano dificilmente o quadro vai mudar. Até agora os classificados seriam Argentinos Jrs., Banfield, Estudiantes e outros clubes do mesmo nível, times de boa qualidade, mas sem nenhum grande diferencial neste momento. A Libertadores parece estar passando por importantes transformações estruturais. Bom ficar atento.

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